EN125 (¼ mortalidade) ...
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nas Estradas Portuguesas:
A EDUCAÇÃO RODOVIÁRIA E A SOCIEDADE CIVIL – PARTE II
Há umas crónicas atrás partilhei o meu pensamento relativamente ao papel decisivo que a Sociedade Civil pode e deve ter na formação e informação dos condutores actuais e futuros.
Na altura defendia, e continuo a fazê-lo, que as seguradoras deveriam – caso não sintam a necessidade do ponto de vista da gestão do seu risco – ser
chamadas a contribuir para esse fim.
Elas são das entidades directamente mais interessadas, económica e financeiramente falando, na redução da sinistralidade rodoviária.
O investimento das seguradoras na formação e informação de condutores em geral, e dos seus segurados em particular, dar-lhes-á retorno financeiro directo a curto e médio prazos.
Por outro lado, dariam um bom exemplo de empresas, e quiçá indústria, socialmente responsáveis, beneficiando dessa forma a sua notoriedade.
Note-se que, adicionalmente, a redução de sinistralidade rodoviária tem também enormes impactos sociais, macro-económicos e nas finanças públicas.
Saúdo pois a Companhia de Seguros Liberty!
Não sei se é a sua primeira acção do género, mas esta empresa está a dar uma prova de responsabilidade social e de saber gerir o risco técnico segurador. De facto, dei-me conta de uma campanha publicitária, sobretudo radiofónica – não me cruzei com a mesma em outros meios – através da qual forma e informa os ouvintes.
Parece-me ser uma campanha de iniciativa própria, transversal e com nobre conteúdo, não se limitando a fazê-lo apenas junto dos seus segurados, através de comunicação directa.
É, por isso, louvável! Devemos salientá-lo! Devemos congratular! Um BOM exemplo!
Um bom exemplo que, a ser seguido por outras seguradoras, poderá acrescentar imenso valor às suas carteiras, à economia nacional e às finanças públicas.
Mas as seguradoras podem fazer muito mais pela pacificação dos nossos asfaltos.
Todos sabemos que há situações e locais onde a sinistralidade é agravada relativamente a outras.
Pois julgo que as seguradoras podem aqui ter um papel muito útil: trabalhando em conjunto com os principais agentes e autoridades rodoviárias, designadamente as Divisões de Trânsito da PSP e da GNR, para além da Estradas de Portugal, concessionárias das auto-Estradas e IMTT, identificar essas situações e locais.
Julgo até que esse trabalho já está a ser efectuado pela PSP e GNR e por isso não basta identificar. Em conjunto, poderiam estudar soluções para a
minimização da sinistralidade específica e implementá-las. Sim, implementá-las!
Em regra acredito que, numa lógica de custo/benefício, também aqui 20% dos locais ou situações originam 80% dos sinistros. O retorno, para a indústria seguradora no seu conjunto, para a economia nacional e para as finanças públicas estaria portanto garantido.
Depois há as excepções e essas, como sempre, devem ter soluções excepcionais.
Para que isso aconteça é no entanto necessário que as seguradoras alarguem a sua visão e se reúnam em redor de um interesse que lhes é comum e a todos nós, como já acontece em culturas mais evoluídas, designadamente nos «invejados» países nórdicos.
É que a «responsabilidade social» não deve ser apenas um tema estéril, para um capítulo embelezador dos Relatórios e Contas de cada exercício económico das empresas.
É uma obrigação social! Mas também é um factor crítico e decisivo para o sucesso empresarial, conforme provado cientificamente pelas melhores
universidades de Ciências Sociais mundiais e por muitos exemplos de sucesso empresarial baseado em trabalho com a comunidade local ou regional.
E nós, individualmente, que poderemos fazer?
No que me diz respeito, irei mudar os meus seguros de seguradora.
Parabéns, Liberty! Continua!
Mário Lopes - Membro do Juri do troféu Blue Auto (mariolopes.automotor@gmail.com)
http://www.automotor.xl.pt/Not%C3%ADcias/DetalheNoticia/tabid/118/itemId/9306/Default.aspx
FREEDOM
Numa recente viagem pela Escócia coloquei em causa o meu agnosticismo.
Não por influencia dos pólos cristãos e protestantes que habitam por estas terras de lagos e castelos, mas antes por ter sobrevivido às estradas escocesas durante uma semana.
Não é fácil manter a descrença quando se assiste a vários milagres no mesmo dia.
Para mim, a revelação maior deu-se em plena A9, a estrada que faz a ligação entre Stirling e Inverness.
Quem quiser visitar o Loch Ness não tem alternativa se não avançar por esta via rápida de duas faixas para cada lado... e com cruzamentos a cada cinco quilómetros. Em Portugal, de parecido, teremos a EN125, responsável por ¼ da mortalidade rodoviária na região algarvia.
Só que, por aqui, seguramente por milagre, o trânsito parece rodar ordeiro e sem protestos, excepção feita às buzinadelas dos incrédulos turistas, ao verem um automóvel passar-lhes à frente, quando circulam numa estrada com indicação de 70 milhas por hora (110 km/h) de velocidade máxima.
Perante isto, conduzir com o volante à direita e pela faixa esquerda será o menor dos problemas.
Confesso até que, depois de tiradas as medidas à distância do passeio nos primeiros minutos (bom, horas...), tiro até gozo em ver o mundo ao
contrário – até na perspectiva dos crentes. Há liberdade no sentimento: Freedom!, como gritaria o próprio rebelde William Wallace antes de perder a
vida pelo nascimento da Escócia como país.
Gosto ainda mais da teimosia deste povo que passou a sua existência em luta pela sua independência e que manteve, contra todas as pressões (até dos fabricantes automóveis) a liberdade para circular à sua maneira.
Enfim, à maneira do Reino Unido... Mas é louvável a postura. Consta que a primeira circulação, ainda a cavalo, se fazia pela esquerda. Será, portanto, esta a via pioneira. A original.
A explicação é simples: servia para libertar a via direita para as batalhas e a mão direita para o manuseio da espada.
Aos canhotos não rezava história.
Só a um deles, rezou, mas mais tarde, no século XVIII. Chamava-se Napoleão e inverteu a ordem da circulação por toda a Europa precisamente por esta “limitação” gestual.
Mas isto são histórias.
O certo é que o trânsito continuou a fazer-se pela esquerda em todo o Reino Unido e nas suas ex-colónias (Índia, África do Sul, Austrália e Nova Zelândia), tendo este, pelo caminho, convertido o Japão à sua causa “esquerdista”.
Já os EUA, para cortarem com o cordão umbilical britânico, fizeram tudo ao contrário, optando pela direita como a via certa para circular.
A indústria e o resto do mundo, como em tudo, seguiu-lhes as pisadas. Religiosamente e sem protestos.
Jorge Flores
http://www.automotor.xl.pt/Not%C3%ADcias/DetalheNoticia/tabid/118/itemId/9294/Default.aspx
foto: Tiago Matos