Ao retirar-se a qualidade de sociedade aberta, a concessionária de auto-estradas deixa de estar cotada em bolsa.
O que quer dizer que não é a sua cotação diária a ditar a avaliação do valor da empresa.
Tal como avançou o Negócios em Agosto, quando foram conhecidos os resultados da OPA, os bancos financiadores da operação (BCP, BES e CGD) estimavam que, na altura, as acções da Brisa pudessem valer 6 euros, mais do dobro dos 2,76 euros que foram pagos na OPA. Era esse o valor que estava nos cálculos dos bancos quando foi lançada a OPA, bancos que, com uma nova avaliação da empresa fora de bolsa, ficam com um balanço menos negativo e com as garantias da dívida de José de Mello reforçadas. Com a estimativa de 6 euros por acção, a Brisa ficava avaliada em 3,6 mil milhões de euros, como foi noticiado na mesma altura. Com 92% dos direitos de voto da Brisa, a Tagus anunciou esta semana que irá votar contra a proposta da comissão executiva da empresa de pagar um dividendo global de 108 milhões de euros aos accionistas (40% dos resultados distribuíveis).
Tagus propõe pagar 2,10 euros a accionistas minoritários para tirar Brisa de bolsa
A contrapartida oferecida, 24% abaixo do que foi pago no decorrer da OPA, encontra-se justificada por relatório de um revisor oficial de contas. A remuneração destina-se a todos os minoritários da Brisa e, se todos aceitarem, a Tagus terá de gastar mais de 92 milhões de euros. Grupo Mello e Arcus esperam agora a ratificação da CMVM.
A Tagus, veículo que reúne as participações do Grupo José de Mello e do fundo Arcus na Brisa, oferece uma contrapartida de 2,10 euros por acção a todos os accionistas minoritários da concessionária de auto-estradas.
“Esta contrapartida encontra-se justificada, nos termos do nº 2 do artigo 490º do Código das Sociedades Comerciais, por relatório subscrito pelo Senhor Dr. José Maria Ribeiro da Cunha, em representação da Amável Calhau, Ribeiro da Cunha e Associados, Sociedade de Revisores Oficiais de Contas, que é independente em relação à Brisa, à Tagus e aos seus acionistas”, indica um comunicado da Tagus enviado pela concessionária portuguesa através da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
Os 2,10 euros propostos encontram-se 24% abaixo da remuneração de 2,76 euros que foi paga na oferta pública de aquisição (OPA) que colocou a Brisa sob controlo da Tagus. O veículo que lançou a oferta tem considerado que o preço pago em 2012 está agora desajustado devido à deterioração económica em Portugal e da própria empresa.
A contrapartida anunciada esta quinta-feira, 14 de Março, é ainda 4% inferior à cotação de fecho das acções da empresa liderada por Vasco de Mello na sessão de quarta-feira, quando os títulos encerraram a valer 2,18 euros.
Quando se encontrava ainda em fase de esgrimir argumentos com a reguladora presidida por Carlos Tavares sobre como retirar a Brisa de bolsa, a Tagus tinha-se mostrado favorável a pagar um mecanismo de saída que não superasse os dois euros por acção, pelo que faria sentido que o número proposto ao revisor oficial de contas fosse em torno desse montante.
Contrapartida é para todos os pequenos accionistas
A oferta que a Tagus faz para conseguir retirar a Brisa de bolsa “destina-se a todos os titulares de acções da Brisa [não relacionados com a Tagus]”, “independentemente do momento em que tais acções tenham sido adquiridas”, acrescenta o comunicado à CMVM.
Até aqui, esteve em cima da mesa a possibilidade de uma eventual remuneração ser paga apenas aos accionistas da Brisa que não tinham vendido na OPA e que ainda mantinham os títulos (o que afastava, por exemplo, investidores que entraram na cotada depois da oferta) – algo que levou a uma exposição junto da Procuradoria-Geral da República por parte da associação ATM, de defesa de pequenos accionistas.
A oferta destina-se a todos os titulares de acções da Brisa [não relacionados com a Tagus]”, “independentemente do momento em que tais acções tenham sido adquiridas.
O que ainda há pela frente
A Tagus torna público, no referido comunicado, que concluiu ontem, 13 de Março, junto da CMVM, a “instrução do processo com vista à ratificação por esta entidade de supervisão do mecanismo de saída destinado a accionistas da Brisa, Autoestradas de Portugal, S.A. (Brisa), de forma a preencher as condições impostas pela CMVM para a perda de qualidade de sociedade aberta da Brisa”.
Em Fevereiro, a reguladora já tinha indicado que iria permitir essa saída de bolsa caso fosse oferecida uma contrapartida que salvaguardasse os pequenos accionistas, embora tenha salientado, na mesma altura, que essa saída só se tornaria “eficaz após a ratificação pela CMVM do mecanismo de saída apresentado e da sua concretização”. Esta ratificação tem ainda de decorrer.
A entidade presidida por Carlos Tavares salvaguardava ainda que não iria deferir o pedido caso verificasse que o mecanismo proposto não estava a ser aplicado pela Tagus.
http://www.jornaldenegocios.pt/mercados/detalhe/tagus_propoe_pagar_210_euros_a_accionistas_minoritarios_para_tirar_brisa_de_bolsa.html